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MUSEU DE LAMEGO Homens que falam como mulheres



O Museu de Lamego e o Mosteiro de Santa Maria de Salzedas encheram esta quinta e sexta-feira para ouvir os Cantares dos Trovadores Galaico-Portugueses. Numa extraordinária reinterpretação contemporânea de Gisela Cañamero e José Manhita, da “arte pública”, ouviu-se uma sequência de poemas desde a donzela apaixonada à mulher casada, do diálogo entre mãe e filha à fuga desta para o encontro amoroso, do amor correspondido à relação defraudada.
No Museu de Lamego, a sala Grão Vasco foi o palco escolhido. Num cenário seiscentista, o público recuou quatro séculos e durante cerca de uma hora viajou pelas origens da literatura portuguesa, onde as Cantigas de Amigo foram rainhas.
 No Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, a sacristia foi pequena para acolher os alunos que quiseram ouvir poesia. Ora musicadas, ora declamadas, as Cantigas de Amigo entoaram para cerca de 150 pessoas, entre alunos e público em geral, recordando o tempo em que os homens se colocavam na pele das mulheres para lhes darem a voz que lhes era negada pelo analfabetismo.
Numa vertente altamente pedagógica, Gisela Cañamero teve oportunidade de explicar ao público escolar a importância do estudo do berço da língua portuguesa que está, precisamente, na literatura do séc. XII, evocando ainda as Cantigas de Amor a as Cantigas de Escárnio e Maldizer.
Numa performance onde não faltaram as leis do amor, publicadas por André Capelão (séc XII) em «Tractatus de Amore», os dois atores foram muito aplaudidos pelo público, que foi presenteado com uma interpretação no português contemporâneo, que pôde acompanhar no original, através de um caderno elaborado para o efeito.
João Garcia de Guilhade, Pero Viviães, João Airas de Santiago ou Martim de Guinzo foram alguns dos trovadores recordados ao longo das quatro sessões da performance, em Lamego e Salzedas, pelas vozes de Gisela Cañamero e José Manhita, celebrando o Berço da Poesia Portuguesa, na perspectiva dos homens que se colocaram na pele das mulheres para sentirem, por elas, as «coitas de amor».
(Fonte: Vale do Varosa)

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