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Do vinho se faz História, da História se faz vinho

No próximo dia 3 de outubro, a partir das 16h00, o Museu de Lamego é palco da apresentação pública de um conjunto de iniciativas que incluem o lançamento de um vinho, a reedição de um livro e a instituição de um prémio. Estas três formas de celebrar o património, distintas mas que se complementam, partem da ideia de que através do vinho também se pode fazer história, numa iniciativa conjunta da Quinta de Mosteirô e da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN).
Durante o evento serão lançados os vinhos, tinto e branco, “Pé Posto”, cuja particularidade passa pelo facto de reconstituir um vinho histórico, descrito por Rui Fernandes, entre 1531-1532, na sua Descripção do Terreno em roda da cidade de Lamego duas léguas».
Documento maior para a história do Douro vinícola, hoje conservado na Biblioteca Pública Municipal do Porto, é ali referida a Quinta de Mosteirô, uma das primeiras granjas do Mosteiro de S. João de Tarouca, elogiando os seus maravilhosos vinhos «de pé» ou «cheirozos», sendo à época “Pé Posto” a expressão corrente para os vinhos de qualidade produzidos a partir de uma nova forma de plantar a vinha, por oposição aos correntes vinhos «amarais» de tradição medieval, plantados em latada.
O vinho “Pé Posto” pretende ser uma homenagem a Cister e à Quinta de Mosteirô pelo seu papel histórico na imposição do Douro como região vinícola de qualidade superior, recuperando algumas das castas autóctones que já então «se carregão pello Douro em barcas para o Porto» e que «vão por terra para muitos senhores, e para a corte de Castella, e assim alguns para a corte de Portugal» e também «dalli vão de carregação» para todo o mundo.
Inevitavelmente, tratando-se de um vinho baseado num manuscrito da maior importância para o conhecimento da região do Douro antes da reforma pombalina, e um dos mais importantes para o conhecimento do Portugal de quinhentos, a obra de Rui Fernandes vai conhecer uma reedição, atualizada da edição de 2001 feita pela Associação Beira-Douro, pela mão do Doutor Amândio Barros.
Desta forma, a DRCN procura tornar acessível este documento essencial para a História de Lamego, da região do Varosa (já que são abundantemente referidos os mosteiros de Santa Maria de Salzedas e S. João de Tarouca, hoje em recuperação no âmbito do projeto Vale do Varosa), do Douro e de Portugal.
A «Descripção do Terreno em roda da cidade de Lamego duas léguas», apesar de escrito no início do século XVI, só viria a ser publicado pela Academia Real das Ciências em 1824. Teve segunda edição em 1947, por Augusto Dias e terceira há 11 anos, com transcrição e comentário do historiador Amândio Barros.
Por fim, a Quinta de Mosteirô, em parceria com o Museu de Lamego, vai instituir o “Prémio Manuel Coutinho”, com o intuito de incentivar a realização e promover a divulgação de trabalhos académicos na área de História, Arqueologia e Património relacionados com a Região de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Com edição bianual, a primeira é já em 2013. O prémio visa ainda homenagear o Eng. Manuel Coutinho, com um percurso e vida dedicados à região do Douro, cujo desaparecimento precoce não apagou o papel fundamental que desempenhou no arranque deste projeto global, já que esteve à frente da Quinta de Mosteirô até 2011.
Este é portanto um projeto de valorização do Douro e Varosa que, em última análise, pretende fortalecer a ligação histórica entre as duas regiões e a importância do papel dos mosteiros cistercienses do Varosa no desenvolvimento vinícola do Douro. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento do conceito Pé Posto contribuirá, a longo prazo, para o desenvolvimento da investigação em torno das castas autóctones da região duriense e para o desenvolvimento da rede turística Douro-Varosa.
(Fonte: Vale do Varosa)

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